Reflexões a partir da Mensagem do Papa Francisco
ao Padre Geral
dos Trinitários,
e da carta do Ministro
General à família Trinitária
na conclusão do Ano Jubilar do Fundador e Reformador
Neste mês celebramos a festa do nosso
Reformador, São João Batista da Conceição, celebração que coincide com a
conclusão do Ano Jubilar Trinitário, pelos
800 anos da morte do Fundador, São João de Matha, e 400 da morte do Reformador,
São João Batista da Conceição.
O Padre Geral lembra que ao longo
deste ano rendemos graças à Santíssima Trindade pelo dom dos nossos santos Pais,
pelo dom da vocação e pelo carisma trinitário-redentor, e tivemos também a
ocasião para pedir perdão a Deus pelas nossas fraquezas e infidelidades, tanto
do passado como do presente.
Sem dúvida, como fruto das diversas
celebrações realizadas, crescemos no conhecimento e no amor para com os nossos
Pais e, através do nosso apostolado, contribuímos também para que os outros os
conhecessem e os amassem.
O Papa Francisco, na Mensagem ao nosso
Padre Geral lembra que: “se hoje celebramos os dies natales do vosso Fundador e Reformador,
fazemo-lo precisamente porque eles foram capazes de se negar a si mesmos, de
tomar com simplicidade e docilidade a Cruz de Cristo e de se colocar
completamente e de maneira incondicional nas mãos de Deus, a fim de que Ele
edificasse a sua Obra”.
O Padre Geral confia que, depois do
Capítulo Geral, teve duas preocupações que quer compartilhar. A primeira diz respeito às iniciativas
realizadas nestes centenários; iniciativas acompanhadas de celebrações,
congressos, publicações, reflexões e dos debates que se seguiram. Tudo isso o levou se perguntar: "Como podemos continuar a beber e doar
o espírito de nossos Pais, para que eles e a Ordem fundada e reformada por eles
sejam mais amplamente conhecidos e apreciados nos vários países onde estamos
presentes?".
A segunda diz respeito à realidade da
perseguição que muitos cristãos estão sofrendo em vários países. Como
consequência dessa preocupação, em sua mensagem, centra sua reflexão sobre a
questão da perseguição religiosa no mundo de hoje, pois isso toca o coração do
nosso carisma e missão.
De
acordo com a nossa Regra, "a redenção dos escravos que foram aprisionados
pelos gentios pela fé em Cristo" é o principal objetivo da vida e das atividades
de nossa Família religiosa. A vida de São João de Matha e os escritos de São
João Batista da Conceição, confirmam este principal objetivo da Ordem da
Santíssima Trindade e dos cativos”.
A
perseguição religiosa é a violência sofrida pelas pessoas por causa de sua fé e
prática religiosa. Nesses países, os cristãos não são apenas perseguidos, mas
também torturados, seqüestrados, presos ou assassinados por sua fé. John L.
Allen, Jr., um dos jornalistas mais reconhecidos e respeitados dos Estados Unidos,
no seu recente livro, A Guerra Global
contra os cristãos, apresenta uma visão clara da perseguição dos cristãos
no mundo de hoje:
"Do Iraque ao Egito para o Sudão e Nigéria,
da Indonésia ao sul da Índia, os cristãos neste primeiro período do século XXI
são o grupo religioso mais perseguido no mundo. Conforme o relato da Sociedade
Internacional secular para os Direitos Humanos, 80% das violações da liberdade
religiosa no mundo de hoje tem lugar contra os cristãos. Mais de
200-300.000.000 de cristãos vivem fora do Ocidente, muitas vezes como uma
minoria oprimida por uma maioria hostil, vítimas do fundamentalismo islâmico no
Oriente Médio e em partes da África e da Ásia, do radicalismo hindu na Índia,
ou dos estados que impõem o ateísmo, como China e Coréia do Norte".
O
Papa Francisco, em várias ocasiões, convocou para a oração e sacrifício em prol
das pessoas que sofrem por sua fé. Ele mesmo, em sua carta ao Ministro Geral da
nossa Ordem (12/17/2014), lembra que os nossos Pais "receberam um chamado
de Deus que mudou suas vidas e os levou a se envolver e dar-se
incondicionalmente a favor dos necessitados, dos que sofriam pela proclamação
de sua fé no Evangelho".
As
notícias de freqüentes perseguições contra os cristãos continuam a nos
bombardear. Este fato nos faz perceber a importância e a relevância do nosso
Carisma hoje. “Então – continua o nosso Padre Geral – eu me pergunto como
responderiam nosso Fundador e Reformador a essa dura realidade e às
circunstâncias de muitos irmãos e irmãs perseguidos. Lendo a Regra que nos foi
dada pelo Fundador e examinando a vida e os escritos de nosso Reformador, eu
tenho um forte sentimento de que responderiam com rapidez e paixão, redobrando a
intensidade de suas orações, sacrifícios e exortações aos irmãos a fazerem o
mesmo; o seu sentido de solidariedade com a humanidade sofredora e perseguida
se traduziria em ações concretas em favor das vítimas”.
Nós
conhecemos o ardor e o zelo de nossos Pais em seu amor para com os pobres e os
escravos. E é possível ver o motivo de sua insistência em um estilo de vida
simples e frugal, assim como podemos entender a utilidade e o valor da pars tertia da nossa Regra, bem como a
importância da Caixa da Redenção em
nossas Comunidades. “Nesta ótica, continua o Padre Geral, eu posso entender melhor
o significado da nossa oração diária pelos pobres, os perseguidos e os cativos.
Diante deste drama de sofrimento, violência extrema, como cristãos e
trinitários, não podemos ficar indiferentes.
É
verdade que todos nós estamos trabalhando em vários apostolados e que o SIT
(Solidariedade Internacional Trinitária) é ativo em nível nacional e
internacional em sua tarefa de realizar nosso Carisma. No entanto, aumentam e
se repetem os atos de violência contra os cristãos. Somos convidados a aumentar
o fervor e compromisso na vida Trinitária e, não apenas com gestos de
solidariedade, mas aprofundando a motivação da nossa vocação como pessoas
consagradas. Desta forma glorificamos a Santíssima Trindade e oferecemos
liberdade e dignidade aos nossos irmãos e irmãs que sofrem e são perseguidos.
Como resultado, esta visão e perspectiva darão um tom e um incentivo especial a
nossa oração, à vida comunitária, à educação, ao governo e à animação, ao
estilo de vida e a todas as atividades que estamos desenvolvendo no cumprimento
de nossa missão. Com estas ações concretas, o nosso Carisma se fortalece e se
confirma.
Dada
a situação dramática e urgente de guerra e do sofrimento do povo na Síria, o
Conselho Geral e do SIT sentiram o imperativo de dar uma resposta, de alguma
forma, para o sofrimento dos cristãos refugiados na Síria, através de um gesto
concreto de solidariedade. Frei Thierry Knecht, presidente da SIT Geral, e o
próprio Ministro Geral visitaram o Cardeal Robert Sarah, presidente do
Pontifício Conselho "Cor Unum", a fim de obter orientações sobre a
nossa participação para aliviar os sofrimentos dos cristãos vítimas da guerra.
O cardeal sugeriu que entrassem em contato com o Bispo Antoine Audo, de Alepo,
na Síria e com o Diretor da Caritas sírio. O Bispo Audo convidou a participar
de um projeto para ajudar 275 famílias refugiadas de sua diocese. Isso
significou prover comida e roupas para milhares de cristãos na Síria. O Padre
Geral comunicou este projeto e pediu a colaboração das várias jurisdições da
Ordem e do resto da Família trinitária que já responderam generosamente a esse
apelo. Isso permitiu enviar a Dom Audo 20.000 Euros para aliviar as
necessidades das pessoas mencionadas, durante três meses.
No
entanto, é preciso continuar a nossa ajuda para as outras necessidades mais
urgentes destas famílias. Todos somos chamados a apoiar este projeto com nossas
orações e ajuda material, especialmente com aquilo que é o fruto do nosso
sacrifício pessoal e comunitário.
Dado
que a questão da perseguição religiosa dos cristãos foi tão freqüente nos
noticiários do mundo durante o Ano Jubilar trinitário, “eu acredito - continua
o Padre Geral - que a Santíssima Trindade nos quis dar um forte sinal da
validade e relevância do nosso Carisma hoje”. Talvez a memória e o espírito de
nossos Pais, o Fundador e o Reformador, e os desafios que experimentamos na
atualização do dom herdado deles, ajuda-nos a viver e a irradiar nosso carisma
e missão mais profundamente.
A
sensibilidade com os mais necessitados, manifestada de forma acessível a cada
um de nós e a cada Comunidade, é sinal de nossa fidelidade ao Evangelho e ao
nosso Carisma. “Todos nós
– diz o papa Francisco em sua mensagem - somos chamados a experimentar a
alegria que brota do encontro com Jesus, para derrotar o nosso egoísmo, para
abandonar a nossa comodidade e para ousarmos alcançar todas as periferias que
têm necessidade da luz do Evangelho (cf. Evangelii
gaudium, 20). Foi isto
que fizeram, através da sua vida e da sua coragem apostólica, são João de Matha
e são João Batista da Conceição”.
E
ainda, o Papa Francisco, citando Inocêncio III, diz: “Para as vossas obras e iniciativas
apostólicas, não procureis outro fundamento que não seja a raiz da caridade e o interesse
de Cristo”.
Pe. Fr. Vicente Frisullo, OSST
Ministro conventual de São Paulo