PARA A SOLENIDADE DA
SANTÍSSIMA TRINDADE – 2014
Bendita seja a Santíssima Trindade
Queridos
irmãos e irmãs da Família Trinitária,
“Em nome da Santa e
Indivisível Trindade”, assim inicia a Regra do nosso Fundador e Patriarca, João
de Matha. Criados à imagem de Deus, vivemos nos movemos e existimos na Santa
Trindade. Desde crianças, aprendemos do catecismo qual é o objetivo da nossa
vida, a saber, fomos criados para conhecer e amar Deus na vida presente e
louvá-lo e glorificá-lo para sempre na glória. Deus Trino é origem, caminho e
meta.
A vida de fé de cada
um de nós iniciou-se no Batismo. Com efeito, fomos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
E, além disso, nós religiosos somos particularmente consagrados a Santíssima
Trindade com novo título, com a profissão religiosa, e os leigos trinitários o
são também por seu empenho e pertença à Família Trinitária. Hoje, quero lembrar
a toda a Família Trinitária esta verdade tão real e essencial em nossa vida, em
vista da celebração da solenidade da Santa Trindade.
O nosso nome e título
especial é tanto um privilégio quanto uma responsabilidade. Somos “vasos
escolhidos para levar ao mundo inteiro o admirável nome da Santíssima Trindade”.
Cada um de nós mostra com saudável orgulho e honra o nome de sua própria
família. Se o nome de família requer que vivamos de maneira digna de modo que o
mantenhamos, e levemos para frente a dignidade da família, com maior razão o
nome da nossa família religiosa deve nos impulsionar a viver a solene dignidade
que lhe compete, sem que nada escureça a sublimidade de tão grande título e
eleição. Como religiosos fomos chamados, consagrados e enviados pela Santa
Trindade. Este é o sinal característico e próprio da nossa identidade e missão.
Todas as outras características próprias,
como nacionalidade, cultura, tarefa, etc. vêm depois. Viver nossa identidade e
missão como trinitários é a base para experimentar e testemunhar a nossa íntima
união com Deus Trindade.
O terceiro capítulo
da nossa Regra fala das nossas igrejas: “sejam intituladas ao nome da Santa
Trindade e sejam de estrutura simples”. A igreja é o lugar privilegiado para
proclamar a fé, para o culto litúrgico, a oração pessoal e comunitária; é o lugar
principal para o encontro com Deus. Na igreja podemos perceber a importância da
oração e dos sacramentos na vida do trinitário. Nela revemos e aprofundamos de
modo especial o nosso encontro com Deus como força essencial para a missão.
Para descobrir e
gozar da presença de Deus, celebrar e proclamar a nossa fé nele, escutá-lo,
falar com ele, não só individualmente, mas como comunidade de crentes, temos a
necessidade de fazer o melhor uso da igreja. Os trinitários rezam
incessantemente, celebram com maior dignidade os sacramentos, são assíduos na
participação da liturgia para experimentar e expressar sua união com Deus.
Os trinitários se
distinguem por três paixões particulares: a Santa Trindade, os cristãos
perseguidos, pobres e escravos, e a comunidade. Sendo assim, temos necessidade
de alimentar a vida interior com sempre maior cuidado. Somente quem vive em
profunda união com Deus pode buscar e achar o seu rosto no rosto do pobre e de
quem sofre, assim como no rosto do irmão ou da irmã que vive ao seu lado. No
mosaico de São Tomé em Formis, a figura central do Cristo Pantocrator, imagem
perfeita de Deus invisível, ocupa um lugar central e um espaço maior,
circundado por escravos e sofredores. Isso, com certeza, significa que Deus
ocupa o primeiro e mais importante lugar em nossa vida, seguido pelos pobres,
escravos e perseguidos por causa da fé, o nosso lugar é o do lado do círculo.
Interpretando a visão
de São João de Matha, esta perspectiva, e a prioridade que dela deriva, são as
mais importantes e essenciais para a nossa vida. Quando invertemos estas
prioridades, isso é, quando colocamos ao centro o nosso eu, e Deus e os outros
ao lado, nós corremos o risco de encontrar dificuldades na nossa vida cristã e
religiosa. No centro de muitos conflitos na vida comunitária se aninham o
egoísmo e o individualismo. Mas, quando buscamos a glória de Deus e o bem de
nossos irmãos e irmãs, em lugar de nossos interesses pessoais, estaremos
seguindo a inspiração de São João de Matha, que nos guia e impulsiona e viver e
testemunhar nossa identidade e carisma de modo concreto, coerente e efetivo.
Através do
aniquilamento, Cristo realizou a vontade do Pai e manifestou sua glória. A
aparente ausência do Espírito Santo no mosaico da Ordem revela também o
aniquilamento e a humildade do nosso Deus. A presença do Espírito se percebe na
ação de misericórdia e amor de Deus que aperta a mão dos dois escravos que
estão para ser libertados. Uma atitude humilde e não pretensiosa favorece o
trabalho em equipe do trinitário e é eficaz para glorificar Deus
desinteressadamente através das obras de misericórdia. Pois render glória a
Deus é o nosso primeiro objetivo; a inveja, a prepotência, a rivalidade devem
afastar-se de nós, elas mancham nossa identidade e missão.
A imagem da Santa e Indivisível
Trindade deve ser preservada e cuidada com afeto especial em nossa vida pessoal
e comunitária. Como templos de Deus, consagrados a Santíssima Trindade, nós
trinitários somos chamados ao culto supremo do uno e único Deus. Todo outro
culto ou dedicação que se antepõe à adoração do nosso Deus é idolatria, e trai
a nossa identidade e missão. O nosso
serviço a Deus e a sua imagem viva da humanidade sofredora e desfavorecida deve
ser dada de todo coração. A santidade e a integração de nossas intenções e
pessoas fazem de nossa vida um digno serviço a Deus.
Uma vida totalmente
dedicada a Deus e ao seu serviço, desenvolvido apaixonadamente com os pobres e
cativos, torna a vida dos trinitários uma apropriada e digna homenagem a Santa
Trindade. Centrado em Deus, e orientado à sua glória, o trinitário vive sua
existência unificada e harmoniosa, evitando toda leviana distração da mente e
do coração.
A Indivisível
Trindade é, mais uma vez, o modelo máximo para cada uma de nossas
comunidades. Diferentes como as Três
pessoas da Trindade, seus membros vivendo em autêntica fraternidade, fazem com
que cada comunidade seja a imagem da divina vida trinitária. A autêntica
comunidade permanece sempre unida. Comunidades trinitárias desunidas seriam um
paradoxo, e uma imagem desfigurada e distorcida da Santa e Indivisível
Trindade. As rivalidades não vêm de Deus, mas do espírito do mal que semeia
descontentamento e divisões.
Somos chamados a
concentrar nossos esforços para modelar nossas comunidades na imagem da
Trindade. Quando Deus reina em nossos corações e em nossas comunidades, quando
nosso único objetivo de vida é sua glorificação e a redenção das almas, a paz e
a harmonia predominam de novo em nossos corações. Quando o egoísmo e o
interesse pessoal desaparecem de nosso coração, a Santa Trindade reina em
nossos corações, e nosso culto a Deus se faz autêntico e genuíno. Quando estas
atitudes e virtudes prevalecem em nosso ânimo, nossa identidade e missão
florescerão na Igreja.
Que Maria, Mãe do Bom
Remédio, que invocamos todos os dias com o título de Filha do Pai, Mãe do
Filho, Esposa do Espírito Santo e Santuário da Santíssima Trindade, seja nossa
inspiração, e interceda diante de Deus para que nós possamos viver, nos mover e
existir na ÚNICA E INDIVISA TRINDADE.
Desejo para cada um,
uma feliz festa da Santíssima Trindade.
Vosso irmão, José
Narlaly, O.SS.T. Ministro Geral
Algorta, 11 de maio de 2014, memória do beato Domingo
Iturrate.